
Por toda a Toscana há dezenas de colinas com lindos vilarejos medievais no topo. São tantos que é até difícil escolher aonde ir, e um pouco da graça do passeio de carro é arriscar uma colina toscana aqui, outra ali. É raro não ter uma boa surpresa escondida em algum canto. No sul da região, quase na fronteira com o Lazio (onde fica Roma), três vilarejos vizinhos, de forte passado etrusco, chamam a atenção: Pitigliano, Sovana e Sorano. Ficam a 2h30m de Florença e a 2h de Roma. E a apenas uma hora, em um curto desvio da estrada que leva a Roma, está a Tenuta dell’Ammiraglia, uma das propriedades da vinícola Marchesi de Frescobaldi, das mais tradicionais e conhecidas da Toscana. Afinal, qualquer roteiro pela região tem que ter pelo menos uma degustação dos ótimos vinhos produzidos na área.

As três cidades medievais são conhecidas como Città del Tufo, por conta da rocha porosa de origem vulcânica de suas colinas, e podem ser visitadas em um único dia por quem estiver de carro. Comece por Sorano, um vilarejo encarapitado no alto da colina, formado basicamente por uma fortaleza do século XIV, a Fortezza Orsini, e as ruelas aos pés do castelo, repletas de casas de pedra. De Sorano, são uns 15 minutos até Sovana. Pelo caminho, dá para ver as cavernas nas colinas de tufo, material que mantém constante a temperatura em seu interior.
Detalhes da Piazza del Pretorio, em Sovana
A praça medieval de Sovana, Piazza del Pretorio, tem seu charme, com a simples e bonita igreja de Santa Maria Maggiore, um pequeno museu e alguns bares e restaurantes, todos erguidos em pedra. Mas era um domingo, e tudo estava sonolento no pequeníssimo vilarejo, ainda que fosse um bonito dia de fim de verão. A grande atração não estava na rua principal, e sim nos arredores, onde fica o Parque Arqueológico das Cidades do Tufo. Os etruscos dominaram a Toscana séculos antes de Cristo — até a chegada dos romanos e seu expansionismo — e a necrópole de Sovana reúne as melhores ruínas desse período.

A coleção de tumbas impressiona, com destaque para a monumental Ildebranda, de meados do século III antes de Cristo, ainda com os resquícios das seis colunas na fachada e três de cada lado. A Tumba Ildebranda foi escavada na rocha, como outras do parque arqueológico. Também é fascinante passar por uma das rotas da antiga Etrúria que foram preservadas, chamadas de via cava, escavadas no tufo. Há muitas na região, e é possível fazer um trekking de quatro horas de Pitigliano para Sovana passando por várias das vias cavas. Quem não se animar a tanto, pode levar comes e bebes e organizar um piquenique em uma das muitas mesas espalhadas pela grande necrópole.
Rota da Etrúria e tumba no parque arqueológico
Reserve algumas horas para a linda Pitigliano, a mais movimentada e animada das três cidades do tufo, pertinho de Sovana e do parque etrusco. No domingo em que Sovana dormia, havia em Pitigliano uma grande concentração de motociclistas na praça principal, e lojas e restaurantes estavam abertos.


No outono, a estrela gastronômica é o cogumelo fresco, e um ótimo lugar para comer uma massa com cogumelos e flor de abobrinha é a Hostaria del Ceccotino, simpático restaurante adepto do movimento slow food, que fica na praça San Gregorio VII, onde está também a Catedral de São Pedro e São Paulo, em estilo barroco. Na praça principal, Piazza della Fortezza, fica o aqueduto do século XVI e o Palazzo Orsini, originalmente dos séculos XIII-XIV. Com pouco mais de quatro mil habitantes, Pitigliano também é conhecida por sua comunidade judaica, estabelecida no século XVI. No antigo gueto judeu, entre a praça principal e a da Catedral, chamado hoje de Piccola Gerusalemme (Pequena Jerusalém), há uma sinagoga nos rochedos de tufo, lojas de produtos kosher e restaurantes de cozinha ítalo-judaica, como o Il Tufo Allegro.
Azeites e massa com cogumelos em flor de abobrinha
(Versão atualizada de texto originalmente publicado na revista Boa Viagem, do jornal O Globo.)
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