Vampiros toscanos em Volterra

Palazzo dei Priori e a torre do relógio
Palazzo dei Priori e a torre do relógio

A pouco mais de uma hora de Florença ou Pisa, na encantadora Volterra, cidade de origem etrusca, turistas, pelo menos os mais jovens, têm se dedicado nos últimos anos a outro tipo de caça: seguir os passos dos vampiros do livro “Lua nova”, de Stephenie Meyer, que tem um capítulo inteiro passado no lugar. Mas o lindo cenário de Volterra e seus fascinantes objetos e esculturas em alabastro conquistam mesmo quem estava em outro planeta nos últimos tempos e não sabe do que se trata “Crepúsculo”, a série americana de livros e filmes.

Vista do Palazzo dei Priori
Vista do Palazzo dei Priori

Menos conhecidas do que as vizinhas mais famosas, como Siena e San Gimignano, Volterra tem charme de sobra para ser incluída em um roteiro toscano menos óbvio. As distâncias são curtas. E as estradas são boas, bem sinalizadas, sempre cortando os lindos campos da Toscana, com seus vinhedos, oliveiras, ciprestes e inesquecíveis fins de tarde em amarelo e rosa. Trens e ônibus regionais também ligam as cidades toscanas em diversos horários diários.

Volterra, Toscana / Foto de Carla LencastreVolterra, Toscana / Foto de Carla Lencastre

Pelas ruas de Volterra

Os primeiros sinais de que Volterra, cidade pacata de forte de passado etrusco, agora tem um presente “Crepúsculo” apareceram há quase dez anos. No outono de 2006, encarapitada no alto de uma colina, como várias outras na Toscana, Volterra começou a receber adolescentes e jovens americanos de livro na mão. Os visitantes queriam seguir passo a passo a parte italiana do atormentado percurso de Bella e Edward em “Lua nova”, segundo livro da trilogia “Crepúsculo”, de Stephenie Meyer. Em 2009, com o lançamento do filme, o livro bateu recordes mundiais de venda. O escritório de turismo de Volterra percebeu o potencial turístico de protagonizar um capítulo inteiro, e importante, da saga de vampiros e lobisomens. E passou a oferecer passeios guiados inspirados em “Lua nova”, e a se apresentar como “A pátria dos Volturi” (personagens da história). Detalhe: por questões de logística, o filme foi rodado em outra cidade toscana, Montelpulciano.

Volterra, Toscana / Foto de Carla LencastreVolterra, Toscana / Foto de Carla Lencastre

Detalhes de Volterra

Independentemente de “Lua nova”, Volterra sempre merece atenção em um roteiro pela Toscana. Além do importante tesouro arqueológico etrusco, a cidade, hoje com menos de 12 mil habitantes (eram 25 mil no período etrusco), a 40 minutos de San Gimignano, conquista o turista com suas construções medievais, ruas estreitas e sinuosas repletas de lojinhas e cafés, esculturas e objetos de alabastro. Comece a jornada procurando pelo Palazzo dei Priori, na praça de mesmo nome, a principal da cidade, e onde fica a Torre do Relógio. Em dias claros, vale a pena subir ao topo do palácio, um dos mais antigos da Toscana, do início do século XIII, e apreciar a vista que alcança a Córsega.

Outro palazzo, o Viti, tem incríveis paredes pintadas à mão e abriga uma grande coleção de objetos de arte dos séculos XV ao XX, com peças em alabastro, porcelanas, objetos asiáticos e até uma cama na qual teriam dormido Vittorio Emanuelle II, o primeiro rei da Itália, e a atriz Claudia Cardinale (cada um em seu tempo, claro).

O Museu Etrusco Guarnacci é visita obrigatória. Em algumas salas a disposição do acervo é confusa, mas impressiona a coleção de joias de ouro e a de centenas de urnas fúnebres em pedra ou alabastro, decoradas com detalhadas cenas do cotidiano real ou não — uma das bonitas mostra uma cena batizada de “Ulisses e a sereia”. É emocionante também ver a escultura de bronze “Ombra della sera” (“A sombra da noite”), de 300 anos antes de Cristo, que muitos séculos depois viria a inspirar o artista suíço Alberto Giacometti (1901-1966) em suas figuras humanas longilíneas.

Alab'Art, um dos ateliês de alabastro em Volterra
Alab’Art, um dos ateliês de alabastro em Volterra

Depois de admirar as obras em alabastro dos antigos etruscos, aprecie as modernas em uma das muitas lojas. Ou em um ateliê como o Alab’Arte, de Roberto Chiti e Giorgio Finazzo, que colaboram com vários artistas plásticos contemporâneos, entre eles Anish Kapoor. O ateliê fica perto do Museu Etrusco, e lá é possível ver os escultores trabalhando e conversar sobre o processo de fabricação das peças em alabastro transparente (o mais valioso), marrom (o mais raro), cinza e branco opaco. Em Volterra venta muito e a temperatura está sempre dois ou três graus mais baixa do que nas cidades vizinhas, em qualquer época do ano. Além de casaco, não deixe levar um lenço ou cachecol para proteger o pescoço do frio. Ou dos vampiros.

(Versão atualizada de texto originalmente publicado na revista Boa Viagem, do jornal O Globo.)

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