
Um vale de grande beleza repleto de vinícolas com boa infraestrutura turística, a maioria de pequena produção, fica a apenas 15 minutos de um encantador vilarejo litorâneo, encarapitado no alto de penhascos. É possível mergulhar em gaiolas ao lado de tubarões-brancos no verão, e avistam-se baleias no inverno. O cenário está a menos de duas horas de carro da Cidade do Cabo, na província do Cabo Ocidental. A estrada é bem pavimentada e sinalizada. Os bons vinhos têm também bons preços. A região vinícola de Hemel-en-Aarde, onde fica a Hermanus Wine Route, pode não ser tão famosa quanto Stellenbosch, que está a menos de uma hora da Cidade do Cabo. Mas tem todas as qualidades para garantir seu lugar no mapa do enoturismo da África do Sul.


Em bom estado de conservação, a estrada que leva da Cidade do Cabo até Hermanus, a R44, oferece lindas paisagens, como fynbos (a vegetação típica da região), plantações de maçãs, montanhas de granito e vistas para o Atlântico. As vinícolas da Hermanus Wine Route ficam lado a lado nas margens da estradinha (R320) que sai da rodovia principal, a uns 15 minutos do centro do vilarejo, e acompanha o curso do Rio Onrust pelo vale de Hemel-en-Aarde. Algumas são grandes, com bons restaurantes. Outras têm apenas uma pequena sala para degustações. Há vinhos que são exportados e podem ser encontrados no Brasil, mas muitos são para consumo local. Em comum, todas as vinícolas têm bons vinhos, proteas (a flor símbolo da África do Sul) e um serviço quase sempre atencioso e simpático. Na maioria delas, as degustações são gratuitas, mesmo que você não compre nada.

Nossa primeira parada na Hermanus Wine Route foi na Hamilton Russell Vineyards, uma das vinícolas do vale de Hemel-en-Aarde com vinhedos mais perto do mar. Há tonéis de aço ao ar livre e uma pequena sala de degustação, à margem de um dos muitos lagos do vale. Uma foto se destaca: a imagem mostra Nelson Mandela e a Rainha Elisabeth II brindando com um vinho branco da vinícola, uma das de maior prestígio na região. O príncipe Charles, mais jovem, assiste à cena. As especialidades da Hamilton Russell, assim como de todo o vale, são chardonnay e pinot noir. A vinícola também produz mel de fynbos.
As duas primeiras paradas da rota vinícola

Logo adiante, a Bouchard Finlayson Winery, uma das pioneiras do pinot noir sul-africano e que se apresenta como vinícola butique, oferece uma sala de degustação maior. Há pinot noir (como o premiado Galpin Peak 2012, que ficou dez meses em barris de carvalho), mas também castas italianas, como sangiovese e nebbiolo. O Hannibal é um blend de 39% sangiovese e 35% pinot noir, e sua composição tem ainda nebbiolo, shiraz, barbera e mourvèdre. A versão de 2012 passou 16 meses em barris de carvalho.

Não muito longe dali, na outra margem da estrada, fica a lindona La Vierge, que tem um restaurante envidraçado com vista para o vale, decorado com serigrafias de Michael Adams, artista plástico das Seychelles, e confortáveis poltronas e sofás para beber apreciando a vista.
O restaurante da vinícola La Vierge
Do lado de dentro, o vermelho é a cor predominante. Seu pinot noir chama-se Seduction, e traz no divertido rótulo dois pares de pernas, um masculino e um feminino. Outros vinhos atendem por Satyricon (sangiovese e nebbiolo) e Nymphomane (cabernet sauvignon, cabernet franc, merlot e malbec).
Mais adiante, está a Newton Jonhson Wines. Seu restaurante envidraçado permite uma vista deslumbrante para o vale. Infelizmente, foi a única vinícola visitada onde o serviço deixou a desejar. A última vinícola na qual paramos, no final do vale, foi a badalada Creation Wines. Além da linda paisagem dos vinhedos, há rosas, lavandas e fynbos por toda a parte. O restaurante estava lotado em uma sexta-feira à tarde. Em vez de almoço, optamos pela degustação harmonizada com canapés, que faz a fama da vinícola. E foi uma ótima escolha.

A maioria dos ingredientes usados no cardápio é da região. Começamos com um aromático sauvignon blanc 2014 acompanhando o pão quente com dois tipos de manteigas temperadas e um gazpacho. A harmonização seguiu com sémillon 2013 e biscoito de parmesão; chardonnay 2013 com canapé de camarão com abacate e maionese de baunilha e limão; pinot noir 2013 com queijo de cabra; merlot 2012 com sopa de couve-flor e gorgonzola (uma delícia); um blend de merlot, cabernet sauvignon e petit verdot 2012 com antílope e cogumelos, e um shiraz 2012 com wonton de porco.
A Hermanus Wine Route começa perto da Wine Village, uma loja na rodovia principal onde é possível comprar a produção da região. A distância entre as vinícolas não é grande. Para fazer o passeio com calma, incluindo almoço, o ideal é reservar umas quatro horas. A maioria das vinícolas abre o ano todo, diariamente, das 10h às 17h, e não requer agendamento prévio, mas é sempre bom checar (algumas fecham aos domingos). Os restaurantes costumam fechar entre 15h e 16h.
Hermanus é um antigo vilarejo de pescadores, hoje cheio de charme e repleto de bons hotéis. Durante o verão, a alta temporada na região, quando os moradores da Cidade do Cabo escapam para lá, o controverso mergulho em gaiola para ver de perto tubarões-brancos é uma das principais atrações da região.

Entre julho e dezembro, as baleias-francas-austrais chegam bem perto da costa, e podem ser avistadas do alto dos penhascos. Uma trilha pavimentada contorna o litoral. Há placas com informações sobre as baleias, e banquinhos de madeira aqui e ali. Em apenas um dia, podem ser avistadas mais de 15 na Walker Bay, onde fica Hermanus. Nesta época, a maioria dos turistas vem do exterior, até porque também é um bom período para fazer safáris no país.

Os onze quilômetros da orla são o ponto alto da pequena cidade de 45 mil habitantes, mas há também um centrinho, com lojas e restaurantes. Um dos mais badalados é o Burgundy, de frutos do mar. Ao lado do centrinho, de frente para o Atlântico, fica o hotel The Marine, da The Collection by Liz McGrath, que reúne três hotéis de luxo no Cabo Ocidental, todos Relais&Châteaux. Além do Marine, há um em Plettenberg e outro em Constantia, nos arredores da Cidade do Cabo, The Cellars-Hohenort.

Mesmo que você não se hospede em um dos 42 quartos do Marine, vale a pena jantar lá. Com um charmoso chão em branco e preto, o ótimo The Pavillion tem cozinha sul-africana contemporânea e um cardápio conciso que prioriza os ingredientes da região. Na trilha sonora, clássicos da canção americana, como “Strangers in the night” na voz de Frank Sinatra.
O início de o fim de uma deliciosa refeição no The Marine
Comece com os pães maravilhosos e uma taça de cap classique, o espumante sul-africano, como o Pierre Jourdan Belle Rose (produzido na região de Franschhoek, perto de Stellenbosch). E não deixe de terminar com o lindo e delicioso prato de queijos. A carta de vinhos privilegia os exemplares do vale de Hemel-en-Aarde, como o Seduction, da La Vierge.
SERVIÇO
Hamilton Russell Vineyards: Tel. 27 (28) 312-1791. E-mail tastingroom@hermanus.com.za.
Bouchard Finlayson Winery: Tel. 27 (28) 312-3515. E-mail info@bouchardfinlayson.com.za.
La Vierge: Tel. 27 (28) 313-0130. E-mail sales@lavierge.com.za.
Newton Jonhson Wines: Tel. 27 (21) 200-2148. E-mail therestaurant@newtonjohnson.com.
Como chegar de carro: Hermanus fica a duas horas de carro de Cape Town pela ótima (e bonita) R44. Quem preferir não dirigir na mão inglesa, pode contratar um transfer.
(Versão atualizada de texto originalmente publicado na revista Boa Viagem do jornal O Globo.)