O passeio de um dia (ou menos) pode começar na estação Bibliothèque François Mitterrand. Dali, uma curta caminhada leva aos quatro modernos prédios envidraçados da Biblioteca Nacional da França, projetados por Dominique Perrault e distribuídos em uma esplanada de frente para o Rio Sena. Uma das torres tem um setor de exposições, aberto ao público. Uma das mostras atuais homenageia o centenário do escritor e filósofo Roland Barthes, e tem uma sala dedicada aos manuscritos de “Fragmentos de um discurso amoroso”. A mostra pode ser vista até 25 de julho.
Logo em frente à biblioteca, na margem esquerda, onde um grupo praticava tai chi chuan à beira do rio, começa a passarela Simone de Beauvoir, somente para pedestres e ciclistas, inaugurada em 2006. Além do desenho cheio de curvas modernistas e diferente do das outras pontes sobre o Sena perto da cidade, a passarela de aço, a 37ª a atravessar o rio em Paris, é bem mais alta em um dos seu níveis (são dois, entrelaçados, o que proporciona um trecho coberto). Chega a dar um friozinho na barriga no nível mais alto, que leva direto ao lindo Parc de Bercy, com 14 hectares ao longo da margem direita. Vista deste lado do rio, no 12º arrondissement, as torres da biblioteca parecem emoldurar a passarela.
Pelas ruas François Truffaut e Paul Belmondo chega-se à Cinemateca Francesa, instalada há dez anos em um prédio assimétrico com as indefectíveis curvas do star architect Frank Gehry. Até 19 de julho está em cartaz uma exposição (com retrospectiva de filmes) sobre Antonioni. No parque, entre a Cinemateca e a área comercial de Bercy Village, crianças brincam enquanto adolescentes namoram, adultos correm e turistas tiram fotos. Tudo isso em um sábado frio de início de primavera. Agora no verão deve ser uma festa.
O trecho do parque entre a passarela e o centro comercial, chamado de Jardim Romântico, é bem bonito: além de esculturas variadas, tem lagos com peixes e patos, pontes, flores. E os trilhos por onde passavam os vagões carregando barris de vinho estão à vista nos caminhos pavimentados. Porque essa é a origem da região e de Bercy Village. Nesta área de viticultores nas franjas da cidade, os galpões de pedra do Village armazenavam a bebida, no século XIX. As casas que serviam ao negócio do vinho (onde os produtores pagavam suas taxas, por exemplo), hoje estão voltadas para atividades botânicas e culturais. Os galpões, restaurados, guardam lojas bacanas, e nas paredes de pedra há relevos lembrando a origem do lugar como armazém de vinhos.
Entre as lojas, além da Fnac, estão La Cure Gourmande, de biscoitos amanteigados em lindas embalagens; Alice Délice, de utensílios para cozinha; Loisirs & Créations, com material para desenho, pintura, costura e jardinagem; Arteum, uma galeria de arte; agnès b., grife francesa de roupas femininas e masculinas; a onipresente Sephora.
Os restaurantes de Bercy Village seguem a mesma linha das lojas. Não são muitos, mas são interessantes: há uma padaria, loja de doces e bistrô do badalado padeiro Eric Kayser; um bistrô boco, no qual a comida é servida em simpáticos potes de vidro; um tradicional Hippopotamus, com suas carnes grelhadas e hambúrgueres corretos; uma creperia bretã, La Compagnie des Crêpes, entre outros.
Na hora de ir embora, é só pegar o metrô na estação Cour Saint-Émillon, também da linha 14, que é praticamente dentro do centro comercial. Em dez minutos você está de volta ao Centro de Paris.
(Versão atualizada de texto originalmente publicado na revista Boa Viagem, do jornal O Globo.)