“Nenhum domingo era domingo se o meu pai ou o meu tio não saísse conosco para um passeio matinal ao Bósforo (…)”, escreveu Orhan Pamuk, romancista turco e Prêmio Nobel de Literatura de 2006, em seu livro Istambul.
De tempos bizantinos ao Império Otomano, chegando à moderna Turquia secular, o Estreito de Bósforo cumpre seu papel de “rua” principal da hoje Istambul. Navegar em suas águas, que ligam os mares de Mármara e Negro e separam Europa e Ásia, é programa fundamental na lista de qualquer visitante de primeira viagem. O roteiro pode ser um cruzeiro turístico para admirar os imponentes palácios otomanos nas margens ou simplesmente uma travessia de balsa, como muitos moradores da cidade fazem diariamente, para ir da parte europeia à asiática e vice-versa. A margem ocidental também pode ser cenário de um belo e menos óbvio passeio de domingo.
Não que os roteiros básicos de Istambul sejam dispensáveis: além de navegar pelo Bósforo, é imprescindível circular pelo centro histórico de Sultanahmet e visitar a Basílica de Santa Sofia, a Mesquita Azul, o Palácio Topkapi e a Cisterna da Basílica, além de pechinchar no Grande Bazar e no Bazar Egípcio. Mas há outros cantos a serem explorados nesta metrópole de 15 milhões de habitantes. Domingo é o melhor dia da semana para passear pelo subúrbio próspero de Ortaköy, espalhado à beira d’água, onde os comerciantes montam barraquinhas na frente das lojas, oferecendo produtos diferentes daqueles dos bazares.
Mesquita à beira d’água, compras e bons drinques em Ortaköy
O ponto de partida pode ser a praça central da antiga vila de pescadores onde fica a linda mesquita de Ortaköy, quase dentro do Bósforo. Para chegar até lá, o ideal é pegar um táxi. A tarifa não assusta se comparada aos preços das corridas no Rio, mas nem todos os motoristas são confiáveis. Certifique-se que o taxímetro foi ligado. E separe dinheiro trocado para não correr risco de ser enrolado na hora do troco.

Uma vez em Ortaköy, admire a mesquita de dois minaretes, em estilo neobarroco, construída pelo último sultão otomano, Abdülmecid, em meados do século XIX. O arquiteto é Nikogös Balyan, o mesmo do famoso e suntuoso Palácio Dolmabahçe, também na margem ocidental do Bósforo.
Depois, o programa é bater perna pela praça e por ruas calçadas de pedra, com prédios baixos, olhando o vaivém de embarcações no Bósforo e a Ásia, observando a fascinante mistura de ocidentais e orientais, parando nas barraquinhas de artesanato, bijuterias, vinis, gravuras e pôsteres antigos, entrando em uma loja ou outra, com acessórios bem diferentes, que não se encontram nas lojas dos bazares.
Para almoçar, há muitos restaurantes simpáticos. Escolhi o moderninho e concorrido House Café (que tem uma casa também na Istiklal Caddesi, a principal rua comercial de Istambul, e outras filiais espalhadas pela cidade). Estavam perfeitas as almôndegas de carneiro apimentadas, com molho de iogurte, acompanhadas de uma taça de vinho tinto turco, o Ancyra Kalecick, e da vista para a mesquita e a primeira ponte suspensa intercontinental, de 1973, chamada de Ponte do Bósforo. Curiosidade: a distância entre os pilares de sustentação na Europa e na Ásia é de 1.074 metros.
Poderia passar a tarde inteira ali, apreciando a vista para a Ásia. Para quem preferir fazer um lanche rápido, os quiosques de Ortaköy são famosos. Também há várias opções para um café, chá ou drinque de fim da tarde, quando o sol se põe entre Europa e Ásia. Mais adiante, perto da ponte, para quem quiser seguir noite adentro pela Istambul moderna, há bares, boates e restaurantes, como os do glamuroso complexo Reina, frequentados por celebridades locais e estrangeiras.
Brunchs luxuosos entre palácios otomanos em Istambul
Para quem já conhece Istambul, e quer se hospedar fora dos centros histórico e comercial, Ortaköy pode ser uma opção. As bandeiras Kempinski Four Seasons estão em dois hotéis palácios à beira do Estreito de Bósforo, no caminho para Ortaköy. Do Çiragan Palace Kempinski dá para ir a pé, por calçadas estreitas, até a Mesquita de Ortaköy. Mesmo que não sejam para o seu bolso, sua viagem pode ter um pouco mais de glamour com um brunch em um dos dois hotéis de luxo.
No Çiragan Palace, antes ou depois de aproveitar o fantástico bufê, não deixe de dar uma volta pelos belos jardins e se encantar com a piscina sobre o Bósforo emoldurada pela ponte intercontinental. Admire também a arquitetura do autêntico palácio otomano que abriga o restaurante principal do hotel, de cozinha turca. O palácio tem ainda 11 suítes de altíssimo luxo, procurada por árabes, indianos e russos. Seu arquiteto, Nikogös Balyan, o mesmo da Mesquita de Otarköy, foi um dos responsáveis pelo impressionante Palácio Dolmabahçe, de meados do século XIX, construído pelo último sultão do Império Otomano, Abdülmecid. Mustafa Kemal, o Atatürk, venerado pai da Turquia secular, morreu no Dolmabahçe, em 1938. O Four Seasons, que tem também um hotel no bairro histórico de Sultanameth, fica entre um palácio e outro.
Versão atualizada de texto originalmente publicado na revista Boa Viagem, d’O Globo